Imigrantes: cai o mito dos "não-escolarizados"

Na França, novo estudo rebate o senso comum e revela: maior parte dos que chegam da Europa Oriental, Oriente Médio e África tem escolaridade igual ou superior à da população local

Na RFI

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Luciano Fogaça/Opera Mundi

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Na França, novo estudo rebate o senso comum e revela: maior parte dos que chegam da Europa Oriental, Oriente Médio e África tem escolaridade igual ou superior à da população local

Na RFI

Na França, é comum ouvir nas ruas, em bate-papos às vezes nada amistosos nas mesas dos bares e em debates acalorados na TV que os imigrantes “aproveitam” da estrutura social do país, porque são, na maioria dos casos, pobres com um baixo nível de instrução que buscam o paternalismo de uma nação rica.

As imagens dos refugiados que inundaram a TV e a mídia nos últimos meses contribuíram para o fortalecimento desse estereótipo, reforçado também pelas declarações populistas como as da candidata da extrema-direita Marine Le Pen, favorita ao primeiro turno das eleições presidenciais francesas.

O estudo intitulado “O nível de instrução dos imigrantes: variado e com frequência mais elevada do que boa parte da população francesa”, publicado em 14/2 na revista População e Sociedades, questiona essa ideia e prova que ela tem pouco fundamento científico.

O demógrafo Mathieu Ichou mostra que muitos grupos de imigrantes têm alto índice de diplomas de ensino superior – acima dos franceses. É o caso de 37% dos romenos que vivem no país, 43% dos chineses, 35% dos vietnamitas, ou ainda 32% dos poloneses.

Na França, 27% tem um diploma universitário – o mesmo índice, aliás, dos senegaleses que vivem no país. É o caso também de outras nacionalidades do continente africano. “Contrariamente ao que pensa uma boa parte da opinião pública, os imigrantes malineses que chegam à Europa, vêm da classe média ou média alta de seus países”, diz o pesquisador, entrevistado pelo jornal Le Monde. Ele lembra, também, que para deixar a África é preciso beneficiar de um certo nível de capital econômico, social e intelectual.

O fenômeno também pode ser constatado em outros países da Europa: a demógrafa Anne Goujon, do Instituto Demográfico de Viena, analisou o perfil dos refugiados sírios que chegaram à Áustria no início de 2015 e constatou que 27% deles tinha diploma ensino superior. No país, em guerra desde 2011, apenas 10% tem esse nível de instrução. A mesma constatação foi feita entre os afegãos. A conclusão é que apenas a população mais privilegiada conseguiu fugir da guerra e terminar seu périplo até a Europa.

A pesquisa da demógrafa também traz outro dado interessante: os imigrantes que estudaram apenas até o primário representam apenas 1% da população, com exceção das nacionalidades marroquina, com 19%, e turca, com 15%. Mathieu Ichou lembra que os fluxos migratórios se diversificaram ao longo das décadas, o que explica a tese da imigração “sob medida” defendida por alguns candidatos à eleição presidencial francesa.

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Um comentario para "Imigrantes: cai o mito dos "não-escolarizados""

  1. pgilmarilmar disse:

    As ‘coisas estão mudando neh,Zé ??? srsrsr

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