Snowden: “Estamos nus diante do poder”

Livro do homem que revelou o estado de vigilância global sai nesta terça-feira. Ele segue em Moscou; teme que a Inteligência Artificial multiplique o controle; mas crê na resistência cidadã. Vale ler sua entrevista ao “Guardian”

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Há seis anos e meio, Edward Snowden, então um funcionário subcontratado da CIA, entrou num avião em Honolulu, Havaí, e desceu horas depois em Hong Kong. Lá, num quarto de hotel, encontrou-se com os jornalistas Glenn Greenwald, Laura Poitras e Ewen MacAskill – e levantou o véu que encobria o gigantesco aparato de vigilância global montado pelos Estados Unidos. A história de sua vida (apenas 36 anos) está agora contada em livro – Permanent Record, que será lançado em 20 países, na próxima terça-feira (e ainda não tem tradução em português. Na sexta-feira, ele concedeu ao Guardian uma entrevista de duas horas, em que antecipa algumas das revelações.

“Estamos nus diante do poder”, diz Snowden, que vive desde 2014 em Moscou – onde casou-se com Lindsay Mills, sua namorada desde os 22 anos. Tem visto de residência permanente. Viaja bastante, embora não possa sair do país, para não ser agarrado por agentes norte-americanos. Perdeu o medo e o hábito de usar sempre casacos e chapéus. Mas, por temperamento, passa a maior parte do tempo em casa, de onde faz teleconferências que são hoje seu meio de vida. Diz que está preparado para viver longos anos no país e considera natural que Moscou, tão atacada pelo Ocidente, use (discretamente) o fato de lhe ter dado abrigo como propaganda política.

Snowden está preocupado com o avanço da Inteligência Artificial, também no que diz respeito à vigilância. Os dispositivos de reconhecimento facial e de reconhecimento de padrões de comportamento, diz ele, ameaça transformar cada câmera (são dezenas de milhões, pelo mundo), num “policial automático”. Ainda assim, ele não está pessimista. Crê que a consciência da vigilância terminará levando à revolta. “Quem deseja mudar algo precisa por-se de pé”, diz ele. Vê a publicação do livro como algo que pode ajudar esta luta.

Escritas por Glenn Greenwald e Ewen MacAskill, as primeiras matérias sobre a rede global de espionagem dos EUA foram publicadas pelo Guardian e pelo Washignton Post em 6 de Junho de 2013. Estão aqui: 1 2. Dezenas de outras se seguiram e podem ser pesquisadas aqui. Citizen Four, o documentário de Laura Poitras que conta a história das revelações, ganhou, em 2015, o Oscar de melhor documentário. Jamais foi exibido comercialmente no Brasil. Outras Palavras orgulha-se de tê-lo apresentado, em cinedebate. Uma vasta entrevista de Laura pode ser lida, em português, aqui.

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