Marcio Pochmann questiona otimismo brasileiro

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Em seu livro mais recente, presidente do IPEA lança dúvidas sobre papel da “nova classe média” e sobre perspectivas do país no século 21

Por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo

“A estrutura fundiária do Brasil é hoje pior do que em 1920. Atualmente, 40 mil proprietários rurais concentram 50% das áreas agricultáveis do País. Também é preciso acabar com essa lógica perversa que impera, em que os mais pobres são exatamente os que pagam mais impostos”.

A frase acima, do economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), requer a coragem dos que remam contra a maré. O Brasil, afinal, é o país do agronegócio, onde o senso comum equivocado nos diz que os ricos vivem sufocados pela carga tributária do impostômetro. Ou seria impostura?

Pois agora Pochmann rema, de novo, contra a maré. No livro Nova Classe Média?, da Boitempo, o economista coloca uma interrogação que deixa com a pulga atrás da orelha aqueles que se orgulham de uma ascensão social que, muitos de nós acreditamos, enfim teria livrado o Brasil do estigma da pobreza.

Logo na apresentação, ele sapeca: “Seja pelo nível de rendimento, seja pelo tipo de ocupação, seja pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média”.

Em outras palavras, seriam os “remediados” da classe trabalhadora.

No livro, o presidente do Ipea faz uma comparação intrigante: coloca lado a lado a ascensão social promovida durante o governo Lula e a experimentada por setores da população durante o milagre econômico dos anos 70, em plena ditadura militar. Lá, acompanhada pela migração do campo para as cidades e influenciada fortemente pela Igreja Católica e suas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O bispo vermelho de Bauru, Dom Cândido Padin, que o diga. Eram as sementes que iriam eclodir plenamente mais adiante, com o PT e Lula, no ABC paulista dos anos 80.

Mas, agora, Marcio Pochmann diz que os partidos políticos e o sindicalismo, entre outros, não dão conta de lidar com a base despolitizada do lulismo. Mais um trecho da introdução: “Percebe-se sinteticamente que a despolitizadora emergência de segmentos novos na base da pirâmide social resulta do despreparo de instituições democráticas atualmente existentes para envolver e canalizar ações de interesses para a classe trabalhadora ampliada. Isto é, o escasso papel estratégico e renovado do sindicalismo, das associações estudantis e de bairros, das comunidades de base, dos partidos políticos, entre outros.”

Temos, portanto, um dilema: mais ou menos Estado? Privataria ou ensino, saúde e outros serviços públicos universais e de qualidade para todos? É o que está em jogo.

Márcio já havia escrito, anteriormente, na Folha de S. Paulo, um artigo que refletia a encruzilhada brasileira. Reapresentamos o artigo, no Viomundo, com o título: Clássico brasileiro é Vaco vs. Fama.

O Brasil produzirá produtos de alto valor e conhecimento agregados (Vaco) ou ficará na combinação de fazendas, mineração e maquiladoras (Fama)?

Eu [Azenha] diria que o Fama está ganhando de goleada. Você vai ao porto de Suape e todos os guindastes são feitos na China. Você vai à moderníssima usina de energia eólica de Pedra do Sal, no Piauí, e toda a tecnologia é importada. Você percorre as novas fronteiras do agronegócio e descobre que a maior parte do lucro fica com a Cargill, a Bunge, a Monsanto, a Basf, a Massey Ferguson e outras. E, enquanto as crianças sul-coreanas baixam os livros didáticos de clouds em escolas públicas, no Brasil a banda larga é da Telefônica e o Carlinhos Cachoeira é empresário do ramo da educação superior.

Marcio Pochmann aponta para vários passos que podem reforçar o time do Vaco e, no clássico que ele mesmo inventou, diz que “a luta continua”.

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6 comentários para "Marcio Pochmann questiona otimismo brasileiro"

  1. "Você vai ao porto de Suape e todos os guindastes são feitos na China. Você vai à moderníssima usina de energia eólica de Pedra do Sal, no Piauí, e toda a tecnologia é importada. Você percorre as novas fronteiras do agronegócio e descobre que a maior parte do lucro fica com a Cargill, a Bunge, a Monsanto, a Basf, a Massey Ferguson e outras. E, enquanto as crianças sul-coreanas baixam os livros didáticos de clouds em escolas públicas, no Brasil a banda larga é the Telefônica e o Carlinhos Cachoeira é empresário do ramo the educação superior."

  2. Com a palavra os arautos do "brasil novo"… diferente pode ser, mas as estruras continuam velhas, e quando vier a próxima crise?

  3. José Severino Queiroz disse:

    Conforme dados estatistícos há evidencia que houve melhoria na base da piramide populacional no que tange principalmente a renda, porém a consciencia crítica dos diversos segmentos da sociedade não acompanhou o mesmo ritmo. O planejamento estratégico não contempla inovações tecnológicas próprias que visem uma certa independencia a médio e longo prazo quer a nível de produção de energia alternativa como a eólica, solar etc. como também nos diversos campos ciêntificos tais como Saúde,Educação,Comunicação etc.

  4. egle e siquera disse:

    Um país n vai a lugar nenhum se n tiver como prioridades a saúde, a educação, o saneamento, e a ciência.
    Qto a nova classe média, ou aos novos ricos n é uma critica, mas uma enorme preocupação: qto desse dinheiro provém de lavagem, e corrupção?
    O crescimento no Brasil esta sendo real, ou cresce como a India? Um cineasta de lá deixa claro a conexão criminalidade, e crescimento.
    C relação ao Vaco, ate qdo seremos os eternos produtores de cana, café, e soja p exportação? Nada c valor agregado? Concordo.
    É desanimador. E mais ainda ao constatar a despolitização total do povo, das centrais, e dos próprios partidos , e respectivos militantes.
    O problema é global
    Abrs,
    Egle.
    obs- ainda assim as fôrças progressistas tem q se manter unidas, pois a ditadura das fôrças mafiosas paralelas universais, é pior do q qquer ditadura localizada.

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