HQ: Xondaro e a dança guerreira dos Guarani Mbya

Livro relata as manifestações indígenas que irromperam em São Paulo entre 2013 e 2014. Em tempos de Marco Temporal e ataque aos povos originários, relembrar essas histórias é essencial. Sorteamos 2 exemplares para quem apoia nosso jornalismo

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Em outubro de 1492 os juruás invadiram o que chamaram depois de “América”. Alguns anos depois, em 22 de abril de 1500, invadiram definitivamente as terras que hoje chamamos de Brasil. Consigo, os juruás trouxeram o progresso, e com o progresso, a devastação, espoliação e expropriação da vida que aqui florescia. Até hoje enfrentamos essas mazelas que trouxeram.

Juruá, termo que os indígenas Guarani Mbyá utilizam para se referir aos homens brancos, significa “boca com cabelo”. Assim eram chamados os invasores europeus com suas barbas e bigodes – aqueles que com sua cultura de destruição ergueram o capitalismo. São esses juruás – que sempre disputaram terras que nunca os pertenceram – que tentam aprovar o Marco Temporal hoje.

Parte do painel Epopéia Rio-grandense, Missioneira e Farroupilha, no centro de Porto Alegre. Pintura de Danúbio Gonçalves

Assim como o “herói guarani” Sepé Tiaraju, que liderou os Sete Povos das Missões nas Guerras Guaraníticas do século XVIII e enfrentou os colonizadores espanhóis e portugueses; hoje, os povos indígenas combatem os juruás contemporâneos que persistem empreendendo a tomada de suas terras e que não se interessam em curar essa ferida colonial – na verdade, todo dia abrem-na mais um pouco.

O que, talvez, algumas pessoas não saibam, ou nem consigam imaginar, é que na maior metrópole do país vivem povos indígenas que afrontam o cerco territorial do “progresso” capitalista até hoje. À margem do concreto da capital paulista, em uma pequena faixa de terra, residem os Tupi-Guarani e os Guarani Mbya, que lutam pela Terra Indígena Jaraguá.

Na quarta-feira dessa semana (30/05), esses povos saíram mais uma vez em defesa de suas terras, a manifestação ocorreu na estrada que corta as terras do Jaraguá e que, em uma triste ironia – quase sádica –, foi batizada de Rodovia dos Bandeirantes. O grito de luta, que atravessou o país, juntou em consonância diversos povos indígenas e seus apoiadores contra o Marco Temporal.

No entanto, não é a primeira vez que a Rodovia dos Bandeirantes é ocupada por manifestações pela demarcação de terras indígenas.

A HQ Xondaro, lançada em 2016, através de uma parceria entre Fundação Rosa Luxemburgo e Editora Elefante, narra uma breve história de manifestações indígenas que irromperam na capital de São Paulo, nos anos de 2013 e 2014. Uma delas, nessa mesma rodovia ocupada essa semana.

Outras Palavras e Editora Elefante sortearão 2 exemplares de Xondaro entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 12/6, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui.

Outra história narrada é a do xondaro guarani Werá Jeguaka Mirim, da aldeia Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros (extremo sul de São Paulo). Na Copa do Mundo de 2014, que aconteceu no Brasil, o jovem (à época uma criança) levantou uma faixa que reivindicava “Demarcação”, ao invés de apenas soltar “pombas da paz”, como era o combinado.

A narrativa é inspirada por um conto do pai de Werá, Olívio Jekupé. Os quadros foram traçados por Vitor Flynn Paciornik, que visitou e escutou as histórias das aldeias Tenondé Porã, Kalipety e Krukutu; terras que sobrevivem na periferia do extremo sul da cidade de São Paulo e onde vivem Werá e seu pai.

A HQ é recheada de conhecimentos e ensinamentos do povo Guarani Mbya enquadrados em belíssimos traços que revelam ainda o esboço do desenho, o que imprime certa “crueza” e, em minha livre interpretação, “realidade” à história.

Além disso, Xondaro leva esse nome porque em Guarani Mbya significa “guerreiro”; mas, além disso, também remete à dança Xondaro Jeroky, uma “dança guerreira” dos Mbya que treina principalmente as esquivas que, em combate, são imprescindíveis para garantir o melhor ataque.

Para enfrentar o “progresso” assassino do capitalismo, é necessária a união de xondaros e xondararias pelo mundo, munidos de táticas de enfrentamento. Nesse sentido, ainda há muito o que aprender com as lutas dos povos originários. No mais, resta a nós a responsabilidade de escrever e, também, desenhar “a contrapelo” do que está posto. Xondaro é certamente um desses trabalhos.


Outras Palavras e Editora Elefante sortearão 2 exemplares de Xondaro entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 12/6, às 14h. 

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