Jean-Paul Sartre e a obsessão pelo futuro

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Que se passa numa sociedade em que, além dos projetos e expectativas, os próprios gestos aparentemente gratuitos “só têm sentido se sua realização final é projetada para fora deles, fora de nós, no ainda-não”?

Curadoria e Narrração: Alexandre Machado

[Trecho de Situações I ]

“Tentai apreender a vossa consciência e sondai-a. Vereis que está vazia, só encontrareis nela o futuro. Nem sequer falo dos vossos projetos e expectativas: mas o próprio gesto que surpreendeis de passagem só tem sentido para vós se projetardes a sua realização final para fora dele, fora de vós, no ainda-não. Mesmo esta taça cujo fundo não se vê – que se poderia ver, que está no fim de um movimento que ainda não se fez -, esta folha branca cujo reverso está escondido (mas poderia virar-se a folha) e todos os objetos estáveis e sólidos que nos rodeiam ostentam as suas qualidades mais imediatas, mais densas, no futuro.

“O homem não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do presente? O acontecimento não nos assalta como um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?”

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