Cinco mitos sobre a revolução árabe

Juan Cole contesta generalizações apressadas da mídia conservadora sobre a natureza dos protestos que varrem o mundo árabe.

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Por Juan Cole, no Informed Comment | Tradução: Bruno Cava

5. Cara blogosfera de direita e também Bill Mahler: Vocês não podem generalizar sobre a posição feminina em países muçulmanos baseados num ataque repreensível da turba à repórter Lara Logan. Generalizar sobre todo um grupo de pessoas com base em um único incidente se chama “fanatismo”. Trata-se também de falácia lógica, conhecida por “Generalização Apressada” (Hasty Generalization).

Ninguém parece notar que as ditas “desamparadas” mulheres egípcias foram as mesmas que salvaram Logan, ou que Anderson Cooper também fora atacado. Alguns outros exemplos de repórteres e celebridades sendo assaltados por massas estão aqui e aqui.

Nota ao odiador-de-muçulmanos Bill Maher, que deveria sabê-lo melhor: não é verdade que as mulheres não podem votar em 20 países muçulmanos, e por favor pare de generalizar sobre 1,5 bilhões de muçulmanos baseado numa população de 22 milhões na Árabia Saudita, o único lugar onde mulheres não podem dirigir e onde os homens podem votar (em eleições municipais), mas mulheres não. Seria como generalizar a partir dos fundamentalistas anabatistas [Amish] da Pensilvânia, a todos os povos de herança cristã, e imaginar por que da fascinação da Cristandade por cavalos e charretes.

4. Que a turbulência no Bahrein ser causada significativamente pelo Irã é falsa. É um protesto nativo dos xiitas árabes que são tratados como cidadãos de segunda-classe em seu próprio país. No sábado à noite, as multidões de manifestantes acamparam na Praça Pérola, no centro, enquanto seus líderes confabulavam em preparação para conversas com o governo. Informações do Wikileaks mostram que o governo dos EUA descartou, com base em evidências, qualquer participação do Irã, como temido pela monarquia sunita no Bahrein.

3. Yusuf Qaradawi, o pregador de 84 anos cujas raízes estão na velha Fraternidade Muçulmana antes da última se voltar à política parlamentar, não é nenhum Aiatolá Khomeini. Qaradawi dirigiu-se a milhares na Praça Tahir, em Cairo, na sexta. Qaradawi chamou os muçulmanos a lutar contra o Talibã e a al-Qaeda lado a lado com as tropas americanas em 2001. Na sexta, ele elogiou o papel dos cristãos coptas na revolução no Egito, e disse que a era do sectarismo está morta. Qaradawi é reacionário em muitos assuntos, mas ele não é um radical e não há razão para pensar que os Movimentos da Juventude ou dos Trabalhadores, que combateram Hosni Mubarak até a sua saída do país, estejam interessados em ter Qaradawi como alguém para dizer-lhes o que fazer.

2. Olhando ao futuro dos tunisianos e egípcios, não é verdade, como alega o tedioso propagandista anti-islâmico israelense Barry Rubin, que partidos fundamentalistas islâmicos sempre vençam eleições livres e justas em países de maioria muçulmana. Essa alegação francamente estúpida é refutada pelas eleições no Paquistão em 2008, na Albânia em 2009, no Curdistão no Iraque pós-2003, e em todas as eleições indonésias.

1. Apesar da importância do facebook e do tuíter como ferramentas de comunicação e rede, os sindicatos de trabalhadores e os operários tem sido mais relevantes nos levantes árabes que as redes sociais. Na Líbia, o ataque ao regime pelos serviços da internet não preveniu um grande tumulto no sábado em Benghazi, onde o regime reagiu com força letal.

Vídeo da Associated Press sobre os protestos no sábado:

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Um comentario para "Cinco mitos sobre a revolução árabe"

  1. Willian disse:

    muito bom artigo, só um erro no mito de número 1, é twitter. essa palavra ainda não está aportuguesada, espero que compreenda.

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